"Se as minhas mãos pudessem desfolhar"
(Garcia Lorca)
Ela, de acordo com o dicionário, flexão feminina de ele. Metamorfose que cabia no vão de uma porta. Algo inconcluso, como um bordado de meio Sol, que não era sequer eclipse.
De mãos meio acorrentadas, com alguns trocados no bolso, era a imagem da perseverança falha.
Nada lhe pertencia.
Apenas recitava ― calada ― alguns poemas de Lorca, em um tempo de desabitar desejos.
Universo incompleto, desprovida de átomos.
Uma nudez, uma paisagem de seca.
Sequer os desvarios lhe perteciam.
Na breve contagem dos dias, se sentia a perfeição de porcelana: Mãos definidas e paradas, coração de singeleza opaca, boneca indiferente com rosto bonito.
E uma metade de um poema esquecido para ser escrito na lápide.
(Jessiely Soares)
Um comentário:
porra, muito bom. sem palavras, deu vontade de ler Lorca.
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